Individualismo Metodologico

Temos visto que a metodologia da libertação (aqui chamada “marxismo”) é essencialmente uma manipulação dessas arquias que conhecemos como “classes ideologicamente constituídas”, visando a garantia de que as classes inocentes dos oprimidos prevaleçam sobre as classes cruéis dos opressores. Entretanto, ao invés de qualquer coisa que se assemelhe a uma “teoria árquica”, o individualismo metodologico chega até o problema das classes através de uma aproximação radicalmente anarquista. O individualismo metodológico vai simplesmente negar que essas “arquias de classes” (mulheres contra homens, pobres contra ricos, escravos contra senhores, judeus contra gentios) tenham algum poder real, alguma significância ou realidade. Ele alcançará uma comunidade sem classes – não tentando subjugar pela força as diferenças de classe – mas sim ignorando-as e vivendo acima delas, simplesmente procedendo de maneira a viver sem classes. Esse individualismo opera por meio da idéia da insistência que seres humanos são sempre indivíduos e nunca unidades que constituem coletivos de massa chamados “classes”. Subentende-se, é claro, que esses seres humanos sejam tratados como indivíduos ao invés de serem embolados em “solidariedades” e manipulados pelo interesse de qualquer luta de classes. O conceito marxista de “solidariedade de classe” é uma invenção, uma ficção, um logro e uma desilusão. É tão intangível quanto qualquer fantasma que tenhamos algum dia fantasiado. A identidade de ninguém é essencial, por exemplo, “mulher” – isso automaticamente a coloca numa solidariedade ideológica, fazendo dela uma da classe, fazendo dela uma “irmã” para qualquer bloco de poder que se auto intitule MULHER. Não, ela é quem ela é, um indivíduo que – de maneira alguma determinada pelo seu gênero – será “mulher” se ela escolher se definir assim; será dada a ela qualquer “solidariedade” que ela quiser, ao invés de ser empurrada para qualquer tipo de distinção de classes ; será feito do seu gênero o que ela decidir fazer disso; ela será “irmã” de algum homem porco chauvinista se for isso o que ela deseja (os homens também tem “irmãs”, você sabe). Ela pode ignorar a sua classificação e viver fora de qualquer classe; se for isso o que ela desejar fazer. Uma pessoa pode estar involuntariamente sob servidão – mas isso não faz dela, involuntariamente, um membro da “classe escrava” – isso não dita que ela tenha que participar da mentalidade escrava, ter uma solidariedade ideológica com todos os outros escravos, enxergar o seu amo como um inimigo opressor, ou se deixar ser usado como um peão em qualquer luta de classes. Mesmo se 99% dos escravos demonstrar um caráter em particular, não quer dizer que a pessoa deva. Sua individualidade sempre tem preferência sobre esse tal status de classe. Se for de sua vontade, um homem tem o direito de ser atingido pela pobreza sem ser amarrado no “o pobre humilde [quem] crê” de Charles Wesley. E ser rico não coloca necessariamente alguém em solidariedade com “os ricos orgulhosos que não crêem”. Porque existem somente indivíduos de todos os tipos que chegaram a baixos níveis de renda de várias maneiras, e que estão encontrando essa situação de várias maneiras... e porque existem somente indivíduos (bem possivelmente alguns do mesmo tipo de pessoas que, sem mudar ideologicamente, já foram alguma vez parte de outra classe), que chegaram a altos níveis de renda de várias maneiras e estão encontrando a situação também de diferentes maneiras. Portanto, não existem tais entidades como um bloco dos “ricos orgulhosos” oprimindo o bloco dos “pobres humildes”. A criação de uma sociedade socioeconomicamente sem classes, dificilmente se realizará com a promoção de uma guerrilha de classes entre solidariedades imaginárias.

Anarquia Cristã - Vernard Eller (1987)
ver também "O Problema da Tomada de Poder"
http://pseudonimoantifascista.blogspot.com.br/2012/05/o-problema-da-tomada-de-poder-por-uma.html

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